Bom dia, boa tarde e boa noite, tudo certo gente?
Então, basicamente é isso aí que está no título mesmo. Por conta de algumas questões de ansiedade eu acabei por excluir todas as minhas redes sociais, redes estas que eu tinha até um volume alto de postagens.
Eu não sei o que deu na minha cabecinha que eu simplesmente excluí uma conta que tinha no mastodon.social pra ir pro X. No final das contas, só fiquei com saudades mesmo do pessoal do mastodon e a minha ansiedade aumentou mais. Hoje em dia eu quero voltar pro mundo federado mas tenho receio do povo achar que eu sou um “sem opinião”, sei lá.
Não que a opinião dos outros valha alguma coisa, é que é muito ruim ficar pensando nessa possibilidade. Então, vocês acham que eu deveria voltar pro fediverso, pro Mastodon e tals…? Se sim, quais instâncias brasileiras (hospedadas no Brasil) vocês recomendam?
Acho que depende do que realmente fez voce sair da primeira vez.
Algumas vezes me afastei de alguma coisa por ter notado que tinha virado um vicio ou estava me fazendk mal de algum jeito. E depois de um tempo acabo voltando só pra reaprender na pele que aquilo me fazia mal kkkk
Por exemplo, algo me atrai em usar um smartwatch, entao cheguei a arrumar um razoavelmebte bom e barato (época que tava surgindo aquele amazfit bip). Mas fui notando que ele me distraia muito e me deixava ansioso, entao botei na gaveta. Passava uns meses, encontrava ele ali na gaveta bonitinho e tinha vontade de usar de novo, só pra me arrepender uma semana depois. Vendi. Uns anos depois quis comprar outro, mais moderno pq parecia maneiro e tinha umas funcoes novas de monitorar batimentos cardiacos, oxigenacao do sangue e tal (sou muito mais sucetivel a propaganda do que eu gostaria de admitir). Usei um pouco, passou o encanto da novidade e entrou a velha ansiedade, junto com a bateria de celular descarregar mais rapido por ficar usando bluetooth, o fato dele aumentar minha chance de ser assaltado, etc Enfim, passei pra outra pessoa usar
Redes sociais pra mim tem uma coisa parecida. Começo a usar, me vicio, fico no vicio por um tempao ate desregular demais a minha vida e minha capacidade de funcionar como adulto e apago o app do telefone e nao uso mais aquela rede especifica. As redes do fediverso me viciam tambem, mas pela forma como o conteudo é organizado ele nao vem ate voce, voce tem que ir mais atras, entao acabo nao ficando tao preso lá por mt tempo (como as coisas mais saudaveis devem ser). E é curioso que apesar das redes grandes, tipo instagram e twitter, terem muito mais usuarios, eu costumo receber mais respostas e ter discussoes mais legais em redes do fediverso como o mastodon ou lemmy.
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Descobri o fediverso ano passado. O Lemmy é, das plataformas do fediverso, a que mais interajo. Não há uma instância específica porque — e aqui está a magia do fediverso — as instâncias se comunicam, inclusive plataformas distintas. Eu mesmo, estou interagindo nesse tópico do Lemmy através de uma plataforma que não o Lemmy (Sharkey).
Ao meu ver, o fediverso (bem como o Geminispace, uma Web sob protocolo textual similar ao Gopher) são os últimos espaços onde conseguimos resgatar, até certo ponto, aquela Web dos tempos do Orkut, Bate-papo UOL, Yahoo Respostas e afins.
Mas aqui vai um desabafo pessoal, e um ponto a se pensar com relação às interações online: tenho notado uma tendência na Internet no geral, desde que esta passou a fazer parte da minha realidade nos anos 2000. É que, cada vez mais, interações como essa aqui, onde você e eu estamos fazendo uso humano de textos não-curtos, estão… raras.
Dois pontos levam a isso: existência das reações rápidas (curtidas, descurtidas, reações via emojis) e existência de algoritmos que hoje conseguem gerar textos tão “convincentes” que levam à dúvida quanto à agência humana por trás de qualquer texto online.
No primeiro ponto, é por vezes frustrante para uma pessoa (como eu) acostumada em escrever textos longos e profundos receber um “jóia” e não um texto igualmente profundo. Quero dizer, reações são úteis principalmente àquilo que não pede resposta textual (exemplo: “De nada” após um “Obrigado”), mas sempre que possível tento responder em texto, positiva ou negativamente (i.e. diante de uma discordância).
No segundo ponto, e aqui cito um blog da gringa que li, “os textos online se tornaram cheaper”, as LLMs estão meio que “desvalorizando” textos longos como esse. Pra piorar a situação, sou neurodivergente, então meus textos, que trafegam de forma desinibida e espontânea por várias áreas do saber, são quase que indistinguíveis de um texto gerado por LLM. Já fui muitas vezes acusado de ser uma LLM, e isso também acaba sendo frustrante.
Esses dois pontos me fazem, vez em quando, do nada decidir por apagar o que produzi, diante de uma frustração ontológica e epistemológica com o retorno que aquilo (não) produziu (além, claro, de uma “depressão” de longa data onde vira e mexe me pego lembrando e/ou encarando os profundos olhos delineados da Escuridão do Abismo).
Mesmo assim, acabo por permanecer, diante de como o fediverso é um Terceiro Lugar onde a interação humana ainda ocorre sem influência de algoritmos de recomendação ou interesses escusos de acionistas. Ao meu ver, vale a pena, sim, voltar ao fediverso.
Pessoalmente, detesto esse tal de protocolo Gemini, é sem sentido e não tem nenhum uso prático, e apesar de concordar no fato de que uma rede social com algoritmos feitos para nos viciar seja ruim, eu discordo da ideia de ter uma rede social com absolutamente nenhum algoritmo. É como botar todos os seus lápis de cor espalhados em uma caixa, e depois passar um tempo procurando o lápis laranja. É desorganizado, e traz menos visibilidades para suas postagens a menos que você enfie uma tonelada de hashtags ou pior, faça cada substantivo ser uma hashtag. Claro que algoritmos não dão visibilidade para todos automaticamente, mas ao menos servem para filtrar conteúdos de seus interesses ao invés de ter que passar por várias postagens sobre política no hemisfério norte, bots de fotos automáticas/rádio ao vivo, e alguma coisa super avançada sobre tecnologia. Outra coisa que discordo é desse sentimento de recorrer a esses (ou outros) espaços para ter um sentimento de “internet antiga”. É bom recordar do passado, mas fica ruim quando deixa de ser nostalgia e passa a ser saudosismo, com pessoas mais jovens nem tendo experienciado a época. Elas também estão vivendo o seu momento que futuramente será “a internet antiga”, e infelizmente vão ficar se queixando no futuro sobre o passado ser melhor. O que quero dizer com essa parte é que as coisas mudam, e as experiências também, não intento desmerecer suas memórias, mas lembrar que cada época tem suas particularidades. O importante é reconhecer isso e fazer o que é possível para contribuir para um lugar melhor para as pessoas.
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Quanto ao GeminiAté há usos práticos, como enfoque em hospedagem text-only, além do uso de certificados criados no próprio browser para identificar uma sessão (sim, existem client certs para HTTPS, mas é uma função meio “obscura” nos browsers). Já cheguei experimentar server-side em Gemini, e o uso de client certs é bastante acessível tanto para o código no server-side quanto para o cliente/usuário, com os navegadores tendo a funcionalidade à vista.
O Gemini tenta resgatar o HTTP/0.9, quando era só GET e não havia scripting (código arbitrário rodando no cliente), somente markup (HTML). Não concordo totalmente com o que a galera diz mas, dizem que o scripting é a raíz do problema da Web moderna pois permitiu execução de códigos arbitrários pelo cliente, hoje em dia praticamente de forma não-consentida (apenas com a possibilidade de desligar totalmente o JS, o que quebra a maioria dos sites de hoje em dia).
Particularmente não tenho problemas com scripting, até porque gosto bastante do JS, foi minha primeira linguagem de programação e até hoje utilizo (embora recentemente tenho paquerado o Ruby), mas consigo até certo ponto entender esses fundamentos por trás do propósito do Gemini. Mas é praticamente uma reinvenção da roda, então entendo seu lado também.
Quanto a algoritmos
Fomos acostumados com FB e afins, que só são eficientes pois são invasivos. No Fediverso, até existem o que poderiam ser chamados de algoritmos de recomendação (“trending”, por exemplo), mas de tão não-invasivos (e sem “compra de promoção do conteúdo”), realmente não dão “engajamento” que costuma ocorrer naquelas redes.
Na realidade, as diferentes plataformas do fediverso atuam diferentemente pra agregar conteúdos: o Lemmy agrega por instância -> comunidade -> thread, hierarquia que leva a um meio-caminho já andado pra achar um conteúdo de interesse (ex.: Lemmy.eco.br é voltado ao Brasil e onde mais se espera encontrar brasileiros; c/musica agrega listas de músicas, enquanto c/tiodopave agrega piadas: isso é um ponto de partida pra localizar conteúdo).
Quanto à nostalgia
As coisas mudam e, sim, é importante que ocorram mudanças. No entanto, as mudanças que têm ocorrido na Web infelizmente têm sido mais avarias que melhorias: Web Integrity e fim do MV2 focados em acabar com adblockers, mais e mais recursos sendo agregados (Bluetooth, porta serial, etc) que tornam os Standards tão complicados que fazem centrar tudo em Google/Apple/Mozilla (projetos como Ladybird e Servo ainda têm muito arroz-e-feijão pra comer pra chegar ao nível de suporte do Chromium/WebKit/Gecko).
A nostalgia, nesse sentido, não é meramente uma saudade de um passado longínquo, mas sobretudo a necessidade de “restaurar um backup” para que progressos melhores possam ser propostos/feitos sem influência de acionistas, porque às vezes é necessário “recomeçar” um projeto inteiro partindo das primeiras versões legadas ao invés do esforço hercúleo da refatoração.
Vale a pena pra caramba! O senso de comunidade que existe aqui é algo que eu jamais encontrei em nenhuma rede comercial, por mais que não sejam pessoas que conheço no cotidiano, é extremamente interessante de acompanhar a variadas pautas que surgem nas timelines de forma orgânica.
Minha opinião genuinamente honesta é: Não. A menos que você tenha alguma relação com programação, tenha mais de 30 anos, tenha a pele clara e esteja preparado para lidar com uma tonelada de posts sobre política e filtrar todos. Aliás, quais eram as suas redes sociais?